Lutamos pelo direito de viver
"Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos" (Malcolm X)
Ontem mataram o seu Beto num supermercado. João Alberto Silveira de Freitas, homem negro, foi seguido e espancado até a morte por seguranças do supemercado Carrefour na zona norte de Porto Alegre/RS. Pessoas testemunharam, inertes, a cena brutal. A mídia tratou como “despreparo” dos seguranças o motivador da violência. Mas o povo negro tem que andar preparado, todos os dias, para esse racismo que mata.
Na última semana fomos surpreendidos com a triste atitude do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, em retirar nomes como Elza Soares, Gilberto Gil, Conceição Evaristos, Milton Nascimento, Martinho da Vila, Leci Bandão e tantos/as outros/as da lista de personalidades notáveis da cultura negra, para por em seus lugares nomes reconhecidos como torturadores e responsáveis pelo genocídio do povo negro no Brasil.
De acordo com o Atlas da Violência do IPEA, no Brasil 75,7% dos assassinatos são de pessoas negras e 68% das mulheres mortas são mulheres negras.
Os fatos citados refletem duas formas de matar a nossa população: a primeira quando ceifam nossas vidas e a segunda quando tentam apagar nossas memórias, nossas lutas.
Como nos canta Elza Soares, em “A carne”, é o povo negro “que vai de graça para os presídios” e “para debaixo do plástico”, como no caso do jovem Gustavo Amaral, engenheiro morto pela Brigada Militar e injustiçado pela Justiça gaúcha, ou como no caso da jovem caixa de supermercado de São Paulo, que foi humilhada em rede nacional, e agora, no caso de João Alberto.
Historicamente, os negros e negras do Brasil sofrem todo o tipo de violência. No final do século XIX, bugreiros (milícias) eram contratadas para matar indigenas e negros/as no sul do país e eram pagos por orelhas arrancadas. A traição de Porongos, que levou vários negros a serem massacrados, nunca foi reparada.
O capitalismo prometeu o melhor dos mundos... e até hoje a população negra não tem nem o direito à vida garantida. Em pleno início da segunda década do século XXI, quantos negros e negras são perseguidos/as e mortos/as? De quantas balas “perdidas” somos o destino “certo”?
O que pode explicar que apenas em 2020 tenhamos a primeira bancada negra de Porto Alegre - injustamente atacada por setores da sociedade que persistem em alimentar o ódio racial?
Nossa vida é lutar e resistir cotidianamente, de todas as agressões e violações de direitos. Temos que lembrar que a Constituição Federal de 1988 diz que o objetivo da República é garantir uma vida digna, o que ao povo negro sempre foi negado. O processo de civilização nunca contemplou negros/as e indígenas como parte dessa sociedade.
Lembremos do que nos disse Sueli Carneiro em “Viveremos!”. “Sobrevivemos à escravidão, temos sobrevivido à exclusão, sobreviveremos aos periódicos genocidios”. Mas dói. Os corpos negros são o alvo, vivemos essa sentença de morte todos os dias e temos que gritar:
Nós temos direito de viver!
Vidas Negras Importam!
Parem de nos matar!
20 de Novembro de 2020,
Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
Assinam:
Conselho Estadual de Direitos Humanos do Estado do RS (CEDH-RS)
Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul (CODENE-RS)
Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul (CPTERS)
Conselho Estadual de Cultura do RS (CEC-RS)
Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (CONSEA-RS)
Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (CES/RS)
Conselho Estadual de Promoção dos Direitos LGBT (CELGBT/RS)
Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência do RS (COEPEDE/RS)
Conselho Estadual de Assistência Social do Estado do Rio Grande do Sul (CEAS/RS)
Colegiado de Culturas Populares do Rio Grande do Sul